quinta-feira, 4 de março de 2010

O Xico das Couves

O Xico das Couves…Sim o Xico das Couves, personagem incontornável do bairro da minha juventude, e o fornecedor de sempre e por excelência de frutas e verduras num modesto estabelecimento da minha rua.

Transmontano de origem, nunca esquecerei os seus cento e muitos kilos de mastodôntica presença, nem o seu rotundo abdómen de tremeluzentes banhas qual hipopótamo obeso após lauta refeição, nem a sua face de lua cheia (se a lua fosse atingida por centenas de asteróides), borbulhenta e luzidia de suor, de enorme nariz que fazia lembrar as couves-flor que expunha em caixotes no passeio fronteiro à loja, juntamente com a fruta fresca (pelo menos a que estava na parte de cima do caixote) as cenouras e as batatas.

Franqueando a porta do estabelecimento novo universo se abria. Sobre o balcão com frascos de rebuçados (usados nesse tempo como trocos de pequenas quantias) destacava-se uma gasta balança impecavelmente aferida (se nos abstraíssemos da inclinação de quase 45 graus conseguida através de duas rolhas de cortiça). Ao longo das paredes, a toda a volta da loja, expositores exibiam uma profusão de fideus, conservas, bacalhau, enchidos e toda a diversidade de artigos dignos de um moderno hipermercado, sobre tudo isso sobrepunha-se o omnipresente odor a batata podre, couves velhas, e suor rançoso com origem no Xico das Couves e na sua extremosa esposa.

Sim, o Xico das Couves era casado com a Tina da Fruta, cognome adquirido, não como possam pensar pela sua actividade comercial, mas por, quando mais nova, ser afamada por distribuir a mesma (fruta), generosamente, pelos diversos machos das redondezas, ficou mesmo famosa no bairro a maliciosa pergunta “já foste à Fruta?” ou a afirmação “papei o cú da fruta”.

Peculiar figura a da Tina, quase a dar razão ao povo quando diz “Quando Deus fez a panela fez a tampa para ela”, Quase tão estaferma como o Xico, possuía uns fartos seios que contrariavam a gravidade apenas pelo facto de se apoiarem no abdómen que, esse sim, descaia em ondas de gordura quase até aos joelhos, relembro ainda o farto e eriçado bigode que ornava sua obesa face, e o seu posterior quase merecedor de sinalização de transporte pesado de mercadorias.

Outra presença regular no estabelecimento era a Berta, filha do monstruoso casal, apesar de, dizem as más línguas, ser filha da Tina e de um Magala do Quartel de Infantaria, que a fome a mingua e o facto de ser guardador de vacas numa esquecida aldeia da Serra tinha, descuidadamente deixado a sua semente nos entrefolhos da Tina da Fruta, mas isso é outra história.

A Berta, conhecida entre nós por Aberta, que, fruto da convivência próxima com as já conhecidas Gorete e da menina Clotilde, fruto da generosidade com que abocanhava, e não só com a boca, o pau da rapaziada.

Rapidamente a rapaziada, naquela idade que, ser pansexual é quase desejável, não fosse o instinto de macho que já em tenra idade se encontrava plenamente desenvolvido, engendrou um plano que tinha tanto de simples como de maquiavélico e que garantia, pensávamos nós, divertimento e alivio para a nossa eriçada virilidade.

Então era assim. Enquanto o pessoal rapinava um caixote de fruta ao Xico das Couves o que garantia uma perseguição por parte do mesmo que se arrastaria por dois quarteirões à alucinante velocidade máxima do Xico (100 m/h) o que nos obrigaria a porfiados esforços para que a perseguição se mantivesse o tempo necessário, até largarmos o caixote, com metade da fruta já comida, e deixar que o Xico das Couves resgatasse vitoriosamente o mesmo de volta ao passeio fronteiro à loja, coisa que nunca demoraria menos de 30 minutos.

Enquanto durava a desenfreada perseguição, um de nós, previamente sorteado, aproveitava a disponibilidade da Aberta, que sozinha na loja nunca se coibia de, oferecer a abundante e sumarenta fruta com que tinha sido dotada, num recanto discreto entre as latas de “Milo” e as salsichas “Isidoro”.

Nesse dia saiu em sorte o Manel Seboso, assim conhecido pela sua aversão à água e sabão.

E assim foi, posto em prática o plano, logo o Seboso excitadamente entrou na loja do Xico e aproximou-se do balcão, onde, esperava ele, a Aberta prontamente aviaria a encomenda que ali o levara.

Não vendo de imediato a Aberta calculou que talvez estivesse já pronta no já citado nicho de prazer que existia na loja. Avançando afoitamente e não vislumbrando a Aberta dispunha-se já a sair e a mais uma vez ter de procurar alívio nos seus fieis cinco amigos.

Quando se virou para a saída, viu-se ensombrado pela mastodôntica figura da Tina da Fruta que lhe agarrando pela orelha o arrastou para o sítio do costume dizendo:
- Vinhas papar a Berta e vais ser tu o papado.
O que aconteceu em seguida nunca foi contado e apenas o Manel e a Tina o poderão contar.

Só vi mais uma vez o Manel Seboso, os olhos tinham perdido o brilho mas isso foi porque tinha tomado banho e até emanava um cheiro a “Old Spice”, constava até que se tinha depilado e usava cremes rabetas, tal foi o trauma.

Soube há pouco que agora dá pelo nome de Gigi, é abafador de palhinhas num escuso prostíbulo de Afagadores do Falo nos arredores de Picha, conselho de Pedrogão Grande.

Dassss….Sorte madrasta.

3 comentários:

GIGI disse...

Até que enfim que reparam em mim,já desesperava pela vossa indiferença, sinto-me orgulhosa.
Pequena correcção eu Gigi não abafo palhinhas, gosto de algo mais.

gulosa disse...

Eu fui inundada de e-mails do meu querido amigo Xico das Couves, Chico da Tasca ou uma qualquer outra coisa assemelhada

Anónimo disse...

Temos a GiGi nas couves e o Dolviran...na parteleira!!!!