Tendo que matar tempo entre afazeres, deparei-me, num rua da moda da Nossa cidade, com um estabelecimento comercial cujo ramo é (pensava eu) fazer a barba e cortar o cabelo.
Exibia esse estabelecimento, em letras “Art Deco” de cor alilasada os seguintes dizeres “Salão Prazeres” e “Cabeleireiro Unisexo”.
A letra causou-me alguma apreensão, pela cor apaneleirada e formato abichanado, tão longe da Barbearia da minha juventude com o seu cartaz manuscrito, de letra quase ilegível, dizendo apenas “Mestre Jaquim – Barbeiro”, barbeiro leram bem, mestre das artes pilosas, que tão depressa escanhoava uma fuça como alindava e domava o cocruto revolto de qualquer marialva, como, lá mais para a noite, e depois de copiosos penaltís tintos na “Tasca do Augusto”, usava a mesma embotada navalha para resolver qualquer disputa mais acesa.
Já os dizeres não contribuíram nada para a tranquilidade da minha viril postura.
Cabeleireiro ainda vá, dá para entender pela anologia a Barbeiro, soberanamente representada pelo mestre Jaquim que não se acanhava com barba ou cabelo por mais eriçados que fossem, talvez Cabeleireiro apenas tivesse uma abordagem diferente dos apêndices pilosos que adornam a face e cabeça de qualquer macho que se preza, honrosa excepção aos que por excesso de testoesterona perderam os adornos pilosos mas que garbosamente souberam desbravar cricas sumarentas fazendo parte das lendas populares que ainda hoje proclamam que “é dos carecas que elas gostam mais”.
Agora unisexo…ignorando imprudentemente os alertas representados pelo eriçar selvagem dos meus pelos do peito, infalíveis a detectar rabichices iminentes e pensando inocentemente que uni apenas prefixiava o numeral um, logo 1sexo, calculei que seria mais uma modernice urbana com raízes na espelunca do Mestre Joaquim, onde apenas um sexo era cliente com as honrosas passagens extemporâneas pelo estabelecimento da mãe do menino Pedrinho cujo pai embarcadiço primava pela ausência e pelo gosto por marinheiros filipinos, que levava o seu pimpolho á escanhoadela do Mestre, que entregava o rebento nas já conhecedoras mãos de seu aprendiz, o Zé “Mãos de Tesoura”, enquanto desaparecia com a mãe do petiz no armário das vassouras anexo à Barbearia e da Menina Clotilde que varria melenas recém-cortadas do piso do estabelecimento, comprava todas as manhãs “A Bola”, a única literatura alguma vez entrada na Barbearia e ainda aliviava, a troco de 100$00, necessidades diversas dos clientes do Antro.
Mesmo assim resolvi entrar, bem que precisava de rapar a barba de três dias de excessos e aparar a coifa desgrenhada pelo afagar insistente das mãos das gémeas Cátia e Vanessa durante todo o longo fim-de-semana.
Não esperava ser recebido com o afável e familiar rosnado entre-dentes do Mestre Jaquim; “Então pá…Vens à tosquia” ou mesmo “Vens-te alindar ou vens-te prá Clotilde”, dichotes com memórias agridoces da minha juventude, mas também não esperava o que se seguiu.
Franqueada a entrada do “Cabeleireiro”, decorado e quentes tons de púrpura e fucsia, fui recebido por um exemplar andrógino da mais refinada elite das bichas loucas:
- Seja bem-vindo querido, que vai ser, depilação, manicure, e massagem com…
Mais não disse pois duas valentes monadas remodelaram-lhe a delicada face de Amante do Zarolho e ainda hoje deve estar a retirar Champô do intestino delgado onde alojei o respectivo frasco com uma habilidosa biqueirada.
Fui-me embora e precisando de acalmar entrei no estabelecimento contíguo onde o estafermo do empregado me diz:
-Vem do Cabeleireiro…por certo que quer uma Fêvera…
Dasss…. Que saudades do Mestre Jaquim.
2 comentários:
Alguém sabe onde fica o Barbeiro Jaquim é que quero ir á Clotilde ... não sei é se aceitam €uros ... eheheh
A cor fuscia é na realidade FUCSIA que se escreve, segundo a pesquisa que efectuei, trata-se de uma de tonalidade de Rosa muito, muito Rabetóide
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